Vazamento de informações ultrassecretas levanta dúvidas se esta não seria forma de comunicação recorrente entre integrantes do governo. Governo dos EUA adiciona sem querer repórter a grupo que discutia ataques militares
A inadvertida inclusão de um jornalista em um grupo de mensagens de integrantes da cúpula do governo Trump sobre a defesa nacional dos Estados Unidos confirma os maiores temores em relação à inexperiência do círculo íntimo que cerca o presidente para tratar de assuntos ultrassensíveis.
Soa como piada pronta o fato de Jeffrey Goldberg, o prestigiado editor-chefe da revista Atlantic, ter sido convidado pelo conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Mike Waltz, para integrar o grupo que discutia o ataque militar aos houthis, no Iêmen. E também a forma como ele valida a operação militar com um trio de emojis.
A falha desconcertante de segurança poderia violar a Lei de Espionagem, que estabelece as normas para o tratamento de informações confidenciais. O vazamento deixa dúvidas se esta forma de comunicação não seria recorrente entre altos funcionários do governo.
Em vez de se debruçar sobre as suas consequências, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, ex-âncora da Fox News que ocupa o mais alto cargo de segurança do país, responsável por operações militares e 3,5 milhões de pessoas entre ativos e reservistas, optou por atacar o jornalista como mentiroso e “vendedor de lixo”.
Toda a conversa ocorreu pelo aplicativo comercial de mensagens Signal, que é proibido para hospedar assuntos tão confidenciais, como a divulgação de planos de guerra.
Envolveu o vice-presidente, J.D. Vance, o secretário de Estado, Marco Rubio, a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, o diretor da CIA, John Ratfcliffe, entre uma dezena de participantes.
Editor da revista ‘The Atlantic’ publica prints de mensagens que recebeu por engano do vice-presidente dos EUA, JD Vance, e do secretário de Defesa, Pete Hegseth
Reprodução
O desleixo por informações confidenciais já foi demonstrado antes. Ao deixar o cargo, o presidente Donald Trump levou para a sua casa, na Flórida, pacotes com documentos de Defesa nacional e resistiu às tentativas do governo de recuperá-los. Foi indiciado por isso, mas o processo acabou arquivado após a vitória eleitoral do republicano, no ano passado.
Em seu programa na Fox News, Hegseth costumava desancar o governo Biden pela forma como tratava informações secretas.
Boa parte dos participantes do bate-papo do Signal já condenou, anteriormente, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, por ter usado o email privado para se comunicar com assessores.
“Se fosse qualquer outra pessoa que não Hillary Clinton, ela estaria na prisão agora mesmo”, afirmou Hegseth em 2016. “Ninguém está acima da lei. Nem mesmo Hillary Clinton, embora ela pense que está”, ponderou o então congressista Rubio, no mesmo ano na Fox News.
Jeffrey Goldberg permaneceu incógnito durante o bate-papo fora dos canais seguros do governo. Identificado pelas iniciais JG, contou que ninguém percebeu ou o procurou quando saiu do grupo, após confirmar que o bombardeio aos houthis realmente ocorreu, duas horas depois da conversa.
Graças a ele, informações ultrassecretas sobre pacotes de armas e a natureza do bombardeio foram preservadas. Ao contrário dos demais interlocutores, que agiram na base do improviso, o jornalista parecia estar consciente do peso do material que tinha em mãos.
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Fonte: G1
Bate-papo em grupo de mensagens comercial confirma inexperiência de círculo íntimo de Trump
