quarta-feira, 2, abril , 2025 11:28

Jerônimo atua para estancar desgaste e corteja oponentes por reeleição na Bahia

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), acendeu o alerta diante de um cenário de desgastes, iniciou uma série de mudanças em sua gestão e dobrou a aposta na política, buscando consolidar uma base ampla para as eleições de 2026, quando vai concorrer à reeleição.

Governada pelo PT há 18 anos, a Bahia é um dos principais bastiões do partido no país. O desempenho da gestão local é visto como crucial para manutenção de uma ampla margem de votos no estado para Lula, que teve uma frente de 3,7 milhões de votos contra Jair Bolsonaro (PL) em 2022.

“Estamos chegando a 20 anos de gestão no estado da Bahia, é natural que se exija uma oxigenação”, afirmou o governador à Folha.

Ele avalia que os indicadores de aprovação da sua gestão estão associados aos do presidente Lula. Desta forma, a queda de popularidade do presidente, registrada na pesquisa Datafolha em fevereiro, reflete em uma percepção negativa de parte do eleitorado da gestão petista da Bahia.

“Estamos muito colados. Se o Lula cai na pesquisa, ele me puxa. Quando ele sobe, me puxa para cima”, afirma o governador, citando também a segurança pública como um foco local de desgaste.

Na semana passada, o governador anunciou as nomeações de novos chefes para a Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Técnica e Corpo de Bombeiros sob a justificativa de renovar a equipe liderada pelo secretário estadual de Segurança Pública, Marcelo Werner.

Aliados apontam a segurança como principal gargalo da gestão Jerônimo. Em que pese a Bahia ter registrado queda de 8,5% nos indicadores de mortes violentas intencionais em 2024, o estado enfrenta um cenário grave na segurança, com comunidades conflagradas, disputas entre facções e letalidade policial.

Ao longo das últimas semanas, o governo teve que lidar com casos de repercussão, como a morte de uma dentista por bala perdida em meio a uma troca de tiros entre policiais e bandidos na avenida Paralela, uma das mais movimentadas de Salvador, e o assassinato de um motoboy que foi esquartejado e teve o corpo deixado no Vale do Canela.

Os casos deram combustível à oposição, liderada pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), que em feito críticas à gestão do governador na segurança e cobrado medidas para controlar as disputas entre facções criminosas no estado.

Outras mudanças estão previstas na equipe. Nesta segunda-feira (31), o governador anunciou nomeação do publicitário Marcus Vinícius di Flora, com trajetória ligada ao PT nacional, para a Secretaria Estadual de Comunicação.

A pasta estava vaga desde dezembro, quando o jornalista André Curvello deixou o cargo. Ao menos dois nomes foram cotados para vaga –um deles, o publicitário Cid Andrade, foi vetado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa.

O governador avalia outras alterações para azeitar a equipe e imprimir sua digital no governo, que vive um cenário de disputas entre os grupos do senador Jaques Wagner e o ministro Rui Costa.

Os dois também disputam o comando do diretório estadual do PT, para o qual não há um nome de consenso, e se movimentam para concorrer ao Senado em 2026, quando haverá duas vagas em disputa por estado. Aliado, o senador Angelo Coronel (PSD) pleiteia a reeleição.

Ao mesmo tempo em que conduz reforma do secretariado, Jerônimo intensificou a estratégia de presença no interior, reforçando a articulação com prefeitos e líderes políticos locais. Desde o início da gestão, em janeiro de 2023, Jerônimo visitou 309 dos 417 municípios baianos.

A estratégia inclui atrair para sua base prefeitos que apoiaram em 2022 a candidatura de ACM Neto ao governo. O canto da sereia é considerado difícil de resistir, já que os prefeitos buscam recursos fora do orçamento municipal para investimentos em suas cidades.

A aproximação inclui até mesmo aqueles que apoiaram Bolsonaro na última eleição presidencial. É o caso do prefeito Marcelo Belitardo (União Brasil), de Teixeira de Freitas, no extremo sul do estado, e Júnior Marabá (PP), de Luís Eduardo Magalhães, polo do agronegócio no oeste baiano.

Jerônimo celebra a articulação com os prefeitos do campo adversário e critica ACM Neto, seu provável adversário em 2026, que tem apostado nas redes sociais para tentar atingir a imagem do petista.

“O líder da oposição soltou a mão da oposição. O ex-prefeito não tem esse trato que a gente tem de cuidar, de zelar, de fazer os contatos e se aproximar. Rede social é importante, mais o blogueiro ficou no blog e não desceu para o interior do estado”, disparou o governador na semana passada.

A oposição vive um momento de relativa fragilidade, mesmo com a reeleição do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), e o bom desempenho nas cidades grandes e médias da Bahia em 2024.

O União Brasil enfrenta um revés com a Operação Overclean, que investiga nomes do partido por suspeitas de corrupção.

Ainda assim, líderes do partido avaliam que ainda há um longo caminho até 2026, que passa pela popularidade de Lula na esfera nacional e pelo desempenho do governador.

“As pesquisas retratam o que a gente tem ouvido nas ruas. Há uma grande insatisfação com os governos do PT, tanto no plano nacional quanto no estadual”, afirmou o prefeito Bruno Reis.

Outro trunfo para a oposição é a possível formação de uma federação entre União Brasil e PP, que deve criar a maior bancada na Câmara dos Deputados. O movimento deve dar musculatura nacional aos dois partidos e deve evitar um retorno do PP da Bahia para a chapa petista.

noticia por : UOL