Por duas horas e dez minutos, sem intervalo, Martins executou o primeiro volume completo de O cravo bem temperado de Bach. Não era, porém, o garoto de apenas 21 anos que havia pisado no mesmo teatro quase duas décadas antes. Com 38 anos, levou aos americanos uma versão mais madura, mais romântica e mais ousada da obra do compositor alemão.
Os primeiros minutos foram de incertezas. Duvidava que pudesse ir até o fim. A cada final de peça – como o encerramento de um round -, público e pianista respiravam. Quase em uníssono.
Ao final, em si menor, a intensidade e profundidade dos contrapontos conduziram o instrumentista e o teatro justamente numa clave considerada por Bach como fundamental para seu vocabulário musical. Com apenas 47 compassos no prelúdio e uma fuga que alertava ao mundo de forma precoce sobre a chegada de compositores como Wagner ou Schoenberg, Bach conclui com um sonoro, contundente e decisivo acorde em uma tonalidade maior.
A surpresa, reservada para os últimos instantes, fez o histórico Carnegie Hall experimentar uma erupção de aplausos. Era a conquista sobre o corpo.
Por longos minutos, as 3 mil pessoas no teatro e as outras trezentas colocadas no palco ao lado do pianista o aplaudiram. Foram nove curtain calls – as portas que servem como uma espécie de cortina do palco do Hall fecharam e abriram nove vezes para que Martins pudesse agradecer.
Nos dias seguintes, os jornais americanos e brasileiros, além das agências de notícias, confirmaram o sucesso do retorno. No Washington Post de 26 de setembro de 1978, a reportagem destacava como o brasileiro havia sido “ovacionado de pé” pelo público. O jornalista Stan Lehman, da Associated Press, falou em “retorno triunfal”, enquanto a CBS News destacou o “brilhantismo e fluidez” com que Martins havia tocado.
noticia por : UOL