quinta-feira, 8, maio , 2025 04:17

A COP30 e as oportunidades para o Brasil

A próxima conferência do clima (COP30) será realizada em Belém, no mês de Novembro. É a vez de o Brasil liderar as negociações e discussões sobre o plano de ação.

O empenho do Brasil em obter resultados concretos justifica-se não apenas porque somos afetados pela intensificação de eventos climáticos extremos, mas também porque um mundo preocupado com o clima é um mundo que cria oportunidades para o Brasil —seja pela atração de setores intensivos em energia, seja pela restauração florestal.

A crise climática é criada pelo tal efeito estufa que, em si, é natural e necessário —sem ele, a temperatura média do planeta seria de -18°C. O problema surge com a elevação excessiva na concentração dos gases responsáveis pelo efeito, causada principalmente pela queima de uso de combustíveis fósseis.

O resultado é a multiplicação de eventos extremos como enchentes, secas e ondas de calor, além de alterações nos ecossistemas e no nível dos oceanos. No Brasil, esses eventos tem gerado transtornos recorrentes nas cidades, quebras de safra na agricultura e queda nos níveis de água nos reservatórios das grandes cidades e hidrelétricas.

O perfil de emissões do país é bem diferente quando comparado ao de outros países. Metade das nossas emissões de gases de efeito estufa vem do desmatamento da Amazônia, que, além de comprometer a maior biodiversidade do planeta, não gera valor econômico significativo.

Nossa matriz elétrica já é predominantemente renovável, e temos longa experiência no uso de biocombustíveis, como o etanol. Isso coloca o país entre as maiores economias do mundo com maior potencial de produzir com baixas emissões.

O Brasil tem dois papéis a cumprir no cenário de combate às mudanças climáticas. Em ambos os casos, temos a oportunidade de atrair investimentos relevantes para o país.

Primeiro, os recursos renováveis do país podem viabilizar a descarbonização dos setores intensivos em energia —desde setores tradicionais como cimento, aço e alumínio aos emergentes, ligados à revolução digital e à inteligência artificial.

O Nordeste desponta como destino natural dessas atividades, com seu enorme potencial solar e eólico. É um caminho de atração de investimento, geração de emprego e renda para o país.

Segundo, a restauração florestal no Brasil pode remover CO2 da atmosfera em larga escala. A regeneração natural, já em curso em muitas regiões, pode ser complementada por modelos diversos de restauro, que vão desde sistemas agroflorestais com espécies nativas até iniciativas de restauração ecológica de alta qualidade.

Em um artigo em coautoria com Lars Hansen, Todd Munson e José Scheinkman, estimamos o potencial de captura de CO2 na Amazônia em comparação à receita atualmente gerada pela pecuária na região, caracterizada por baixa produtividade. A Amazônia é diversa. Cada área tem um potencial de geração de receita agropecuária e certa capacidade de captura de carbono.

Mostramos que, a um preço superior a US$ 25 por tonelada de CO2 capturado —considerando o balanço líquido entre a regeneração florestal e o desmatamento—, a restauração florestal se torna a atividade econômica mais atrativa para grande parte da região.

Em um horizonte de 30 anos, o potencial de captura chega a 18 bilhões de toneladas de CO2, o que representa uma receita estimada em torno de US$ 450 bilhões. Isso justificaria um esforço nacional para colocar a maior parte da Amazônia em regeneração, promovendo a intensificação da pecuária em outras áreas do país.

As florestas brasileiras podem deixar de ser uma ameaça ao clima para se tornar parte da solução.

noticia por : UOL