quarta-feira, 14, maio , 2025 01:35

Frei Galvão, santo e arquiteto

Frei Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822), conhecido como frei Galvão, primeiro brasileiro canonizado, não foi somente um profundo religioso e um fazedor de milagres, mas, também, arquiteto, taipeiro, mestre de obras, pedreiro e carpinteiro.

É de sua autoria, por exemplo, o Mosteiro da Luz, considerada a mais importante construção colonial do século 18 em São Paulo. Trata-se do marco inicial de uma região então periférica e de um edifício de grande impacto para a urbanização da cidade.

O Mosteiro da Luz, na avenida Tiradentes, além de abrigar hoje o Museu de Arte Sacra de São Paulo, inclui a igreja e o claustro da Ordem da Imaculada Conceição. As monjas vivem isoladas e têm como padroeira Santa Beatriz. Treze mulheres vivem ali atualmente.

Foi o franciscano frei Galvão que idealizou o projeto e foi atrás de doações de benfeitores para erguer a obra. Desde jovem, ele tinha interesse pela arquitetura e demonstrava sentido prático.

O ponto de partida para o início da construção foi o ano de 1772, quando a religiosa Helena do Sacramento teve visões de Jesus Cristo lhe dando orientações para a edificação da igreja e do mosteiro. Frei Galvão atendeu o chamado e pôs mãos à obra.

Dois anos depois ele recebeu autorização do governo para edificar um local de recolhimento das freiras. Desde o século 16, havia uma capela no terreno, mencionada inclusive pelo padre José de Anchieta.

Quem resgatou o legado empreiteiro de frei Galvão foi o arquiteto e urbanista Benedito Lima de Toledo (1934-2019), que publicou o livro “Frei Galvão, Arquiteto” em 2007. Nele, Toledo conta que o religioso pensava e agia como um construtor.

Nos seus projetos levava em conta fatores como a ventilação, a iluminação natural e o impacto na paisagem. Além disso, acompanhava todas as etapas da obra. Tanto o mosteiro quanto a igreja foram construídos com a técnica da taipa de pilão, em que o barro é compactado em moldes para formar paredes largas e resistentes.

A igreja da Luz tem duas fachadas, uma que pode ser vista na avenida Tiradentes e outra voltada para o centro da cidade. Suas janelas e escadas são de madeira maciça e o lugar preserva características arquitetônicas originais. O conjunto ganhou sua feição atual em 1788.

Frei Galvão foi convertido em santo em 2007 pelo papa Bento 16, que visitava o Brasil. Um ano depois, ele foi reconhecido postumamente como engenheiro honoris causa, em uma homenagem realizada pelo Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo). Alem do mosteiro da Luz, ele projetou e edificou também a capela do largo de São Francisco.

O frei combinava o fervor religioso com a capacidade de trabalho e era considerado um homem extremamente inteligente. A ele eram atribuídos poderes sobrenaturais como a telepatia, a premonição, a levitação e a bilocação, capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Sua fama se espalhou, porém, por causa de suas “pílulas”, pequenas embalagens de papel de arroz com uma oração em latim que se consumidas acabariam com cálculos renais e facilitariam partos difíceis. São as irmãs do recolhimento que as fabricam e elas são distribuídas gratuitamente na lojinha do mosteiro.


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noticia por : UOL