quinta-feira, 5, junho , 2025 06:19

O bolsonarismo se rendeu ao discurso de união e pacificação?

Meu editor vai me dar uma bronca. Minha mulher vai dizer que estou monotemático. Os paranoicos vão me acusar de estar levando um por fora. Mas… aqui estou eu para falar de Eduardo Bolsonaro novamente. Mais uma vez. De novo. É isso ou falar de coisas deprimentes, como a regulação das redes no STF ou a fuga de Carla Zambelli ou a mais recente bobagem dita por Lula, Janja. Ou os dois.

Além do mais, se estou falando de Eduardo Bolsonaro o mérito é todo dele, que está se fazendo notar mais e, neste caso, se fazendo notar positivamente. Me refiro ao vídeo que o Zero-três publicou nas redes sociais, falando em esperança e conclamando a direita a ver o que há de bom no Brasil, seja o país governado por quem for. Será que é o bolsonarismo se rendendo ao discurso de união e pacificação? Tomara!

Ímpeto e bravatas

Se for, é algo digno de registro. Mais do que isso, é algo digno de aplausos. Partindo do pressuposto de que há um bocado de sinceridade naquele discurso (o que é sempre discutível em se tratando de um político, eu sei), é admirável ver alguém com pretensões de liderança nacional, talvez até de Presidência, falando em união e pacificação. E isso em meio a tanto ruído e clamores por aquela justiça que no fundo a gente sabe que tem um quê de vingança. Né?

“Ah, mas esse aí não foi aquele que disse que bastavam um cabo e um soldado para fechar o STF?”, você me pergunta. Sim, é ele mesmo. “Esse não é o filho daquele que disse ‘vamos fuzilar a petralhada’ ou algo assim?”, você insiste. Sim, é ele mesmo. E antes que você me pergunte outra coisa fazendo referência a esse bolsonarismo cheio de ímpeto, dado a bravatas e a um espírito carregado de ressentimento, digo que é justamente isso o que torna o discurso mais surpreendente e digno de (alguma) credibilidade.

Mudança

Como assim?! Explico. Ao propor que os brasileiros se unam e reconheçam o que há de bom no país, a despeito dos governos, Eduardo Bolsonaro arrisca boa parte de seu capital político, amealhado no que há de mais radical, intransigente e personalista na direita: o irredutível bolsonarismo, boa parte dele forjado pelo discurso simplista de que a luta política se restringe à eliminação do inimigo. (Isto é, antes que o inimigo o elimine primeiro).

Outra coisa que chamou minha atenção no discurso de Eduardo Bolsonaro foi a menção à construção de um futuro. Não aquele futuro que está logo ali na esquina, em 2026, e sim o futuro dos nossos filhos e netos. Um futuro que provavelmente eu e você não veremos, mas que se beneficiará das decisões que tomamos agora, dos sacrifícios que fazemos agora, dos riscos que corremos agora. É uma mudança e tanto.

Pé atrás

Uma mudança incrível. Uma mudança louvável. Só espero que seja também uma mudança sincera, e não uma mudança calculada, fruto da mente espertalhona de um marqueteiro qualquer que neste exato momento está esfregando as mãos e dizendo: “Pelo menos esse idiota do Polzonoff eu consegui enganar”.

Até porque você não conseguiu, não. Também sofro dessa “desconfiança mútua” a que se refere Eduardo Bolsonaro no vídeo. Por isso, e também porque vi algumas reações raivosas ao vídeo, estou com um pé e meio atrás. Ainda assim, tenho esperança de que, ao menos uma vez na vida, minha ingenuidade voluntária e intencional valha a pena. Sempre tenho.

noticia por : Gazeta do Povo