Logo cedo o amigo me manda uma mensagem esbaforida, em caixa alta, perguntando se não vou escrever sobre a briga entre Elon Musk e Donald Trump. Briga? Que briga?! Tá tendo briga? É que estava concentrado em outros afazeres. Não sabia da briga. Corro para as redes sociais e em 30 segundos absorvo tudo o que posso sobre o assunto. Então é isso. Ah.
NÃO SE ESQUEÇA DE RESPONDER À ENQUETE NO FINAL DO TEXTO
Como é de praxe, as redes sociais nos obrigam a tomar partido. De que lado você está? Elon Musk é o homem mais rico do mundo, autista confesso e orgulhoso, quer levar o ser humano para Marte, essas coisas. Donald Trump é Donald Trump, talvez a personificação de uma modernidade decadente e perdida, símbolo de um resgate de valores que simplesmente não vai acontecer. Por mais que eu e você queiramos, não vai.
Pô, logo agora…?
E é curioso perceber como as pessoas são ligeiras em tomar partido o mais rápido possível. Todas cheias de certeza de que escolheram o lado certo nessa peleja hoje histórica entre dois titãs [BOCEJO], mas que amanhã pode muito bem cair no esquecimento. Ou pior: se revelar um teatro maquiavelicamente montado para entreter uma plateia sempre sedenta de sangue.
Sangue e, no caso do brasileiro, esperança. Pô, Trump. Pô, Musk. Logo agora que os Estados Unidos imporiam sanções a Alexandre de Moraes…! Pois é. Logo agora. Como disse um amigo meu, num tom que misturava humor autodepreciativo e resignação melancólica, o Brasil não tem sorte mesmo. Tamofu. Mas pelo menos de tédio não morreremos jamais. Depois não entendi mais o que ele dizia, por causa do choro convulso. Tadinho.
Afinidades eletivas
De minha parte, não sei em que se baseava a amizade entre Trump e Musk. Não tenho a menor ideia. Interesses financeiros? Por mais bilionários que sejam os dois, sempre existe essa possibilidade. O desejo compartilhado de mudar o mundo? Pode ser. Afinidades eletivas? Sei lá se esse tipo de gente tem tempo para essas coisas e, por mais ricos que sejam, sei lá se podem se dar ao luxo de terem amizades baseadas em outra coisa que não o interesse em alguma coisa.
Só sei que é sempre triste ver amizades públicas se transformarem em estridentes inimizades também públicas. Me lembro da briga entre Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, por exemplo. Uma baita tristeza aquilo. Porque uma amizade desfeita, e ainda mais assim, pública e estridentemente, pode ser interpretada sempre como um sinal de que a colaboração genuína entre dois seres humanos é impossível. De que o amor perdeu (yet another time!) para interesses mesquinhos e mundanos, mundanos e mesquinhos.
Cisne negro
O negócio agora é preparar a pipoca e ver no que vai dar tudo isso. Será que a Space X será estatizada e Elon Musk acabará deportado para a África do Sul, como andou sugerindo alguém? Há quem diga que Donald Trump será, primeiro, banido do Twitter. Depois, sofrerá impeachment. Nesse caso, só espero ser convidado para o rega-bofe no STF. Imagina a comemoração dos cara!
Mas não quero encerrar este texto num tom cínico e melancólico, por isso vou lhe dizer que a cizânia entre Elon Musk e Donald Trump pode ser uma catástrofe geopolítica, mas pode ser também um lembrete de que o imponderável sempre acontece. Para o bem ou para o mal dos interesses da patuleia. Fica aí a lição para abdicarmos do controle, dessa necessidade de prevermos e nos precavermos de tudo. E para, aqui e ali, admirarmos a altivez de um cisne negro deslizando tranquilamente pelas águas turbulentas da realidade.
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noticia por : Gazeta do Povo