sexta-feira, 25, abril , 2025 10:59

Procurador-geral da Venezuela acusa Bukele de tráfico humano ao receber deportados dos EUA

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, acusou nesta quinta-feira (24) o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, de envolvimento em um esquema de tráfico de pessoas ao cobrar dinheiro para enviar à prisão, em seu país, imigrantes venezuelanos deportados pelos Estados Unidos.

“Ele está cometendo o crime de tráfico de pessoas. Está cobrando US$ 7 milhões para prender esses venezuelanos em El Salvador. Ou seja, está fazendo negócios sujos”, disse Saab, aliado do ditador Nicolás Maduro, em entrevista à agência de notícias AFP. Segundo ele, “a Justiça internacional vai agir” em algum momento contra o líder salvadorenho.

O governo de Bukele é um aliado-chave de Trump em sua política anti-imigração. Em pouco mais de um mês, o país na América Central recebeu dos EUA cerca de 250 imigrantes venezuelanos. Eles atualmente estão detidos em uma mega-prisão de segurança máxima.

Os imigrantes foram deportados com base na Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798, invocada por Trump e que concede ao presidente autoridade para deportar “inimigos estrangeiros” sem o devido processo legal, em casos de guerra ou invasão. Essa legislação só havia sido usada durante o conflito de 1812 contra o Império Britânico e suas colônias no Canadá, e nas duas guerras mundiais.

O objetivo da lei, segundo Trump, é prender e expulsar integrantes de grupos criminosos, incluindo o Tren de Aragua —uma das principais facções da Venezuela e considerada terrorista pelos EUA.

El Salvador receberá US$ 6 milhões de Washington por ter recebido um grupo inicial de 200 detentos venezuelanos, segundo a Casa Branca. “A taxa é relativamente baixa para os EUA, mas significativa para nós”, disse Bukele em fevereiro passado, sem especificar o valor.

O presidente salvadorenho afirmou que todos os venezuelanos sob custódia em El Salvador foram detidos nos EUA “no âmbito de uma operação contra gangues como o Tren de Aragua”. Familiares dos presos e organizações que atuam com direitos humanos, porém, afirmam que muitos dos imigrantes não têm envolvimento com a facção e que eles só foram capturados por terem tatuagens.

A declaração de Saab nesta quinta parece ter sido uma resposta a Bukele, que no último domingo (20) alfinetou Maduro ao propor a troca de venezuelanos deportados dos EUA pela mesma quantidade de “presos políticos” mantidos pelo regime venezuelano.

A Casa Branca enfrenta oposição de juízes federais, grupos de direitos humanos e democratas, que acusam Trump de violar direitos constitucionais com sua política de deportações.

O caso mais emblemático é o do migrante salvadorenho Kilmar Ábrego García, deportado ao seu país em 16 de março com base na lei do século 18 e acusado por Washington de ser membro da gangue criminosa MS-13. O governo Trump admitiu que ele foi expulso por um “erro administrativo”, pois possuía proteção legal, mas pouco tem feito para providenciar o seu retorno sob a justificativa de que ele está sob custódia de El Salvador.

Saab, por sua vez, é responsável por uma série de ações jurídicas contra opositores, jornalistas e ativistas na Venezuela. Nas semanas seguintes à eleição presidencial no país, ocorrida em julho do ano passado, ele assinou pedidos de prisão de uma série de líderes antichavistas, incluindo Edmundo González, o candidato da oposição que se exilou na Espanha.

noticia por : UOL