sexta-feira, 6, junho , 2025 04:47

Autores Percival Everett e Samantha Harvey falam sobre seus livros premiados que chegam ao Brasil

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“James”, o livro de Percival Everett que venceu o Pulitzer e o National Book Award, “é basicamente um exercício de perspectiva narrativa”, como afirma o crítico Luiz Mauricio Azevedo.

A obra reconta “As Aventuras de Huckleberry Finn”, de Mark Twain, romance clássico originalmente publicado em 1885, pela perspectiva de Jim, personagem ex-escravizado agora conhecido como James.

A renovação da obra literária é também uma maneira de renovar o mundo, segundo o crítico, e refletir sobre como chegamos até os dias de hoje.

Para construir o narrador de “James”, Everett releu “Huckleberry Finn” 15 vezes seguidas. A ideia central do livro, segundo a reportagem de Gabriel Trigueiro, é que a negritude é uma performance que se faz prioritariamente através da linguagem.

Em “Huckleberry Finn”, Jim é um personagem unidimensional, infantilizado e simplório. Já o James de Everett é apresentado como uma pessoa profunda, um intelectual erudito que sonha com Voltaire e John Locke, também com habilidade de dissimulação social desenvolvida como estratégia de sobrevivência. Quando os brancos se aproximam, sua inteligência “vai embora”.


Acabou de Chegar

“Orbital” (trad. Adriano Scandolara, DBA Literatura, R$ 79,90, 192 págs.) rendeu o mais recente prêmio Booker a sua autora, Samantha Harvey, que narra as aflições de seis astronautas que observam a Terra de uma nave espacial. Para o editor Walter Porto, a formação em filosofia de Harvey fica evidente já nas primeiras páginas da leitura —a autora, segundo ele, “prioriza sempre a meditação à ação, enchendo as personagens de lembranças, aflições e uma grande habilidade de observação”.

“As Perfeições” (trad. Bruna Paroni, Todavia, R$ 59,90, 112 págs.), de Vicenzo Latronico, conta a história de um jovem casal de nômades digitais italianos. O romance, segundo a crítica Ligia Gonçalves Diniz, tenta apresentar a frivolidade dos millennials, mas se torna tão superficial e bobo quanto seus protagonistas. “É difícil entender o sucesso que o livro vem obtendo na recepção internacional”, escreve Diniz.

“O Ódio pela Poesia” (trad. Leonardo Froés, Fósforo, R$ 67,90, 80 págs.) analisa por que tantas pessoas anseiam por decretar a morte do gênero. Segundo o autor Ben Lerner, o suposto ódio por poemas vem da expectativa frustrada de que ofereçam algo impossível, além do alcance da linguagem. “As pessoas que dizem odiar poesia, na verdade, mantêm com ela uma relação dialética. Elas a recusam, mas ao mesmo tempo esperam dela algo a mais”, diz o autor em entrevista a Carolina Faria.


E mais

Um dia, como conta à jornalista Marcella Franco, a escritora Giovana Madalosso viu uma mãe arrumando o lenço na cabeça de uma menina que estava careca e parecia estar fazendo quimioterapia. A cena a fez chorar. Madalosso considerou isso um sinal para seu próximo livro. A protagonista do novo “Batida Só” (Todavia, R$ 74,90, 240 págs.) é posta diante de um diagnóstico de arritmia cardíaca que origina dúvidas e medos.

Em “Imortalidades” (Companhia das Letras, R$ 89,90, 432 páginas), o ensaísta Eduardo Giannetti convida o leitor a confrontar a própria finitude, propondo exercícios de imaginação sobre o momento da morte. Ao explorar a resistência humana ao fim, o livro bebe de diversas fontes. “Tanto o brasileiro Machado de Assis quanto o argentino Jorge Luis Borges escreveram contos intitulados ‘O Imortal’, o que não lhe passa batido”, escreve a repórter Anna Virginia Balloussier.

O advogado José Roberto de Castro Neves foi eleito na última semana para ocupar a antiga cadeira de Marcos Vilaça na Academia Brasileira de Letras. O mais novo imortal da ABL é escritor de diversos livros sobre direito e recentemente lançou seu primeiro romance. “Ozymandias” (Intrínseca, R$ 59,90, 216 págs.) propõe uma narrativa fantástica sobre a formação da identidade brasileira. Como o autor disse à jornalista Carolina Faria, trata-se de “uma tragédia grega que se passa no Brasil”.


Além dos Livros

O diretor da Biblioteca Mário de Andrade, Guilherme Galuppo Borba, avisou seus funcionários que seria exonerado do cargo após menos de cinco meses. Segundo a Prefeitura de São Paulo, a maior biblioteca pública da cidade está em “fase de transição”. “Ainda estou vivendo o luto de um sonho (…) nesta biblioteca tão querida, fui feliz, mesmo que no pequeníssimo e atribulado tempo de uma nova gestão”, afirmou Borba em carta de despedida obtida pela reportagem de Walter Porto e Eduardo Moura. Seu sucessor deve ser Rodrigo Massi, atualmente na SPTuris.

O Prêmio São Paulo de Literatura gerou polêmica ao exigir na última semana, pela primeira vez, que os livros inscritos estivessem disponíveis também em formato de ebook. Essa medida, como explica o Painel das Letras, teria potencial de excluir obras de editoras e autores independentes. Após críticas da classe literária, a organização voltou atrás e retirou a exigência.


No último ano, o mercado de livros brasileiro viu uma queda de 1% no faturamento total. Livros didáticos caíram em vendas, enquanto audiolivros e ebooks se tornaram mais populares. Os dados são da maior pesquisa anual do setor editorial, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros e realizada pela consultoria Nielsen.

noticia por : UOL